O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirma-se como um dos principais propagandistas da cloroquina no mundo. Sem exageros. Defensor do medicamento que tem sido não recomendado pelas principais autoridades da área de saúde para o tratamento do Covid-19, ele vivenciou uma cena, no mínimo inusitada no domingo, 19/7, ao erguer uma caixa do produto perante apoiadores que se aglomeravam em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. Como se fosse uma taça levantada por um capitão em uma final de competição, obteve aplausos de uma plateia delirante, e os gritos ecoaram:
“Cloroquina, cloroquina!”.
A cena, segundo Rubens Casara, doutor em Direito, mestre em Ciências Penais e juiz de Direito do Tribunal de Justiça do RJ, demonstra cabalmente a substituição do conhecimento científico pelas crenças estabelecidas sem qualquer rigor ou metodologia. Casara entende que o momento caracteriza o empobrecimento do sujeito, marca própria da racionalidade dominante, ocasião em que a verdade obtida pelo trabalho do cientista é fragilizada pela postura dos integracionistas.
Casara, que também é membro da Associação Juízes para a Democracia – AJD, e lançou recentemente, pela editora Contracorrente, o livro “Bolsonaro: o mito e o sintoma”, em que expõe por um texto claro e fundamentado, pontos que envolvem as condições que possibilitaram a amplitude da campanha bolsonarista e seu “pensamento empobrecido”, facilitador para que um significativo contingente da população brasileira incorporasse a lógica neoliberal. Ou seja, aquela que, na opinião do autor, trata de ideias e sujeitos como mercadorias, e levaram ao apoio de um governante de feição explicitamente autoritária. Como bem prefacia o jurista, professor e editor, Rafael Valim: “Nesta obra ele procura mostrar como uma massa de brasileiros foi convencida a votar numa pessoa tão despreparada para presidir a nação, e como chegamos a esse momento tão difícil da democracia no Brasil”.