sexta-feira, abril 22, 2022

WebAtivismo - as jornadas de junho
José Fernandes Uchoa

 


O ano de 2013 ficou marcado como um período importante na história recente da política e dos processos de mobilização social no Brasil. Naquele ano, diversos atos de rua despontaram pelas capitais e regiões metropolitanas do país em torno da pauta inicial do transporte coletivo e do direito às cidades. Inicialmente marcados pela oposição ao aumento das tarifas de transportes urbanos em São Paulo e no Rio de Janeiro, esse processo foi gradualmente ganhando corpo e obtendo adesão de amplos setores da população, espalhando-se pelo território nacional. Apesar de uma cobertura inicialmente desfavorável nos meios de comunicação comerciais, os atos receberam forte apoio nas redes sociais digitais, tendo figurado como o primeiro grande processo de mobilização social com abrangência nacional que contou com protagonismo do ativismo em rede, ou webativismo, como convencionamos abordar nesta obra.


Como as Democracias Morrem
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt


Lançado em 2018 nos Estados Unidos e traduzido para o português, no Brasil, ainda no mesmo ano, pela editora Zahar, o livro Como as democracias morrem, de Steven

Levitsky e Daniel Ziblatt, é certamente um caso de best-seller imediato. Embora bastante recente, o livro já recebeu mais de cem citações da sua versão brasileira e quase oitocentas da sua versão original1 e segue suscitando debates e recebendo elogios ao redor do mundo, impulsionado por um Zeitgeist mundial em que a democracia enfrenta visíveis processos de erosão e ruptura.

O livro busca mostrar como a democracia pode e é frequentemente subvertida por dentro, pelas mãos de líderes e atores de tendência autoritária que, navegando através de suas mesmas instituições e poderes, terminam por transformá-la em um regime distinto e autocrático, sem necessariamente precisar utilizar das forças armadas ou de um golpe de Estado clássico. Segundo os autores, a morte da democracia atualmente viria principalmente através de medidas anunciadas com nobres intenções, tais como combate à corrupção ou segurança nacional, e coberta de vernizes democráticos, frequentemente avalizadas por instituições como parlamentos ou cortes de justiça.

A subversão democrática na maioria das vezes se daria através de medidas graduais e se iniciaria, na verdade, já através de medidas simbólicas e discursos polarizadores que buscam construir a ideia de ilegitimidade dos opositores. E prossegue através da captura ou neutralização de instituições de controle, tais como Procuradorias, Cortes de Justiça ou Tribunais de Contas, removendo seus membros mais independentes e/ou preenchendo-as com legalistas fanáticos, tanto para diminuir os riscos e limitações que tais instituições representariam aos objetivos do autocrata, quanto pelo potencial que representam na coerção dos adversários, que passam a enfrentar um campo de atuação cada vez mais desnivelado. E, apesar de as tendências autoritárias de líderes autocráticos serem frequentemente reconhecíveis e por vezes mesmo explicitamente anunciadas, desde muito antes de suas chegadas ao poder, tais líderes acabam sendo "normalizados" por parte de elites políticas que neles enxergam a possibilidade de se livrar de adversários incômodos. Minimizando os riscos ao próprio regime democrático, aproveitam-se de maneira interessada dos abusos contra seus adversários e terminam na maioria das vezes engolidos pelo avançar do processo.

Povos Originários - Guerreiros do Tempo
Ricardo Stuckert


Resultado de 25 anos de dedicação por parte de Ricardo Stuckert, ‘Povos originários: guerreiros do tempo’, recém-lançado pela editora Tordesilhas, é muito mais que um livro de fotografias. Trata-se de um verdadeiro manifesto em defesa da população indígena, cuja riqueza cultural e importância para a preservação do patrimônio natural do Brasil continuam menosprezadas, mais de 500 anos depois da chegada dos portugueses.

Conhecido por ser o fotógrafo oficial do ex-presidente Lula e diretor de fotografia do longa ‘Democracia em Vertigem’, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020, Stuckert retrata na obra as singularidades e tradições de 10 etnias indígenas brasileiras. Para cada uma delas, há um texto de um antropólogo escolhido pelas próprias tribos para falar sobre a história de cada povo.

“É um livro em que as pessoas vão entender a história deles. Isso engrandeceu muito o projeto” (Stuckert)