sexta-feira, dezembro 18, 2020

A Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire


A Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire e o contraste da militarização do governo Bolsonaro

Paulo Freire, com sua genialidade, que é ímpar, enfatiza que a relação dualista opressor e oprimido é reflexo de uma estrutura que está consolidada e que é fabricada para que permaneça da forma que está. Não obstante, faz se a seguinte reflexão que plagiarei do Texto de Freire: “Qual a razão da situação opressora?” É muito fácil entender que a relação de opressores e oprimidos é uma vertente para que o poder continue funcionando da forma que se encontra, criando mecanismos que impossibilitam a inversão desse quadro. A educação, como forma de libertação do povo, está condicionada e fadada ao fracasso enquanto mecanismo de dominação. Os projetos de privatização das universidades públicas mostram que a educação vai se tornar uma utopia para os pobres e oprimidos no Brasil. O que fazer? E o que não fazer? A segunda pergunta é mais fácil de responder, pois se materializa em nossa situação de passividade com a atual situação; isso caminha junto com os discursos de adeptos a esse governo supra opressor. Privatiza-se uma educação que não é transformadora (libertadora), que reflete ideários de uma concepção elitista (opressora) que vê na educação bancária forma de alienação e estagnação do povo.

Em relação à primeira indagação, reforço refazendo outras: como libertar um povo que se adestra a cada dia com opiniões e conteúdos de uma realidade opressora, que não abre caminhos para o diálogo ou para construção de uma cidadania libertária? Como pode o oprimido se libertar sem oprimir? Boas indagações para uma sociedade que se imerge cada dia mais na corrida capitalista para o consumo exacerbado; onde o que impera é aquisição de mais bens, e não a luta para sua libertação dessas formas de promoção de um Estado opressor. O consumo é uma forma elitista de opressão, que aliena o povo, que o transforma em força de produção dos opressores, para produzir mais para que o oprimido consuma mais: a verdadeira luta de classes. A educação se vê no meio dessa realidade consumista, onde o mercado e as políticas educacionais mantêm o aluno em casa, através da educação EAD, cortando ou, para ser mais exato, findando a relação dialógica entre as pessoas. A educação está sendo trabalhada para ser a menos dialógica possível. Com base nessa educação que imerge o discente em um ambiente em que não há diálogo, só se concretizará o que está sendo construído: a opressão dos opressores. A BNCC é o documento que institucionaliza o poder opressor sobre a classe oprimido, onde eles (opressores) estabelecem o que nós (oprimidos) temos que estudar e aprender – resumindo: viramos robôs de manobra. As perguntas acima levantadas, na medida do possível, só pairam o imaginário ideológico de uma população que está sendo calada e transformada em soldados de um governo imperialista e militar.

O papel da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire é trazer a consciência àqueles que querem libertar-se de toda essa farsa que se instalou no poder público do Brasil, para que crie uma educação que possa ser planejada e construída pelos oprimidos que já venceram a concepção opressor-oprimido. Não se pode construir uma educação sem que haja a superação do opressor em cada pessoa, pois se criará outra forma de se oprimir, que pode transparecer ser libertadora.


quinta-feira, dezembro 17, 2020

O Capital de Karl Marx


Karl Marx é, por um lado, o teórico da história cujos teoremas têm hoje maior aceitação. A ideia de que as ferramentas e o modo de produção de uma sociedade determinam sua estrutura política e social, e de que o pensamento humano é delineado pelo uso das ferramentas, e as posições morais são formadas por interesses – essas constatações que Marx e Engels reuniram e chamaram de Materialismo Histórico – está presente hoje em muitas ciências, entre elas na Sociologia, Pedagogia, Psicologia, Estudos da Religião, Literatura, Ciências da Engenharia e da Cognição, para citar apenas algumas.

Com relação a O capital, a principal obra de Marx, a situação difere. Por um lado, nenhuma outra obra dentro das Ciências Sociais nos últimos 150 anos incitou de maneira tão intensa o debate intelectual, nem teve um efeito político tão forte. O movimento dos trabalhadores europeus, os revolucionários bolcheviques, os movimentos de libertação do que se chamou de “Terceiro Mundo” – todos eles referiram-se ao Capital de Marx, que não apenas analisou a mecânica fina do capitalismo, mas parecia fazer profecias com relação a seu fim. E justamente por isso nenhuma outra teoria foi ignorada de maneira tão insistente pelo mainstream econômico, sobretudo nos anos de concorrência global entre sistemas.

Hoje, depois do fim da Guerra Fria e na era da crise climática, do subemprego crônico, da desigualdade global, da especulação financeira e de um crescimento debilitado, não são apenas os esquerdistas remanescentes que falam do fim do capitalismo. Dentro das Ciências Econômicas, dissemina-se o uso do termo “estagnação secular”. E na cúpula mundial dos poderosos do capital, cursa a frase: “O sistema capitalista não combina mais com este mundo”.


Em Nome de Deus
Karen Amstrong


Na apresentação de Karen Armstrong (foto), no livro Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo (Tradução: Hildegard Feist. São Paulo; Companhia das Letras; 2001) ela afirma que um dos fatos mais alarmantes do século XX foi o surgimento de uma devoção militante, popularmente conhecida como “fundamentalismo“, dentro das grandes traduções religiosas. Os que cometem ataques terroristas e de intolerância homofóbica e contra o aborto constituem uma pequena minoria, porém até os fundamentalistas mais pacatos e ordeiros são desconcertantes, pois parecem avessos a muitos dos valores mais positivos da sociedade moderna. Democracia, pluralismo, tolerância religiosa, paz internacional, liberdade de expressão, separação entre Igreja e Estado — nada disso lhes interessa.

Os fundamentalistas cristãos rejeitam as descobertas da Biologia e da Física sobre as origens da vida e afirmam que o Livro do Gênesis é cientificamente exato em todos os detalhes. Os fundamentalistas judeus observam sua Lei Revelada com uma rigidez maior que nunca, e as mulheres muçulmanas, repudiando as liberdades das ocidentais, cobrem-se da cabeça aos pés com seu xador. Os fundamentalistas islâmicos e judeus têm uma visão exclusivamente religiosa do conflito árabe-israelense, que começou como uma disputa secularista.




sexta-feira, dezembro 11, 2020

Bolsonaro - O Mito e o Sintoma de Rubens Casara



O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirma-se como um dos principais propagandistas da cloroquina no mundo. Sem exageros. Defensor do medicamento que tem sido não recomendado pelas principais autoridades da área de saúde para o tratamento do Covid-19, ele vivenciou uma cena, no mínimo inusitada no domingo, 19/7, ao erguer uma caixa do produto perante apoiadores que se aglomeravam em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. Como se fosse uma taça levantada por um capitão em uma final de competição, obteve aplausos de uma plateia delirante, e os gritos ecoaram: 
“Cloroquina, cloroquina!”.
A cena, segundo Rubens Casara, doutor em Direito, mestre em Ciências Penais e juiz de Direito do Tribunal de Justiça do RJ, demonstra cabalmente a substituição do conhecimento científico pelas crenças estabelecidas sem qualquer rigor ou metodologia. Casara entende que o momento caracteriza o empobrecimento do sujeito, marca própria da racionalidade dominante, ocasião em que a verdade obtida pelo trabalho do cientista é fragilizada pela postura dos integracionistas.
Casara, que também é membro da Associação Juízes para a Democracia – AJD, e lançou recentemente, pela editora Contracorrente, o livro “Bolsonaro: o mito e o sintoma”, em que expõe por um texto claro e fundamentado, pontos que envolvem as condições que possibilitaram a amplitude da campanha bolsonarista e seu “pensamento empobrecido”, facilitador para que um significativo contingente da população brasileira incorporasse a lógica neoliberal. Ou seja, aquela que, na opinião do autor, trata de ideias e sujeitos como mercadorias, e levaram ao apoio de um governante de feição explicitamente autoritária. Como bem prefacia o jurista, professor e editor, Rafael Valim: “Nesta obra ele procura mostrar como uma massa de brasileiros foi convencida a votar numa pessoa tão despreparada para presidir a nação, e como chegamos a esse momento tão difícil da democracia no Brasil”.