sexta-feira, setembro 18, 2020

Ódio à Democracia de Jacques Ranciere


2005 na França, Jacques Rancière, um dos mais importantes filósofos da atualidade, conduz o leitor por um passeio pela história da crítica à democracia para situá-la no cerne político do momento atual, procurando esclarecer o que há de novo e revelador no sentimento antidemocrático, uma manifestação tão antiga quanto a própria noção de democracia.
Dessa forma, Rancière repensa o poder subversivo do ideal democrático e o que se entende por política, para assim encontrar o caráter incisivo de sua ideia. O livro ganha edição em português pela Boitempo Editorial em um momento único da política brasileira, no contexto de um cenário eleitoral surpreendente, que sintetiza a efervescência social dos últimos anos, revelada com mais intensidade nas manifestações sociais de junho de 2013.
A obra mostra-se atual também em relação ao debate que vem crescendo sobre participação e representação popular, democracia direta e o desejo de que a política signifique mais do que uma escolha entre oligarcas substituíveis. 'É justamente essa recusa da hierarquia que tem a ganhar com a leitura deste livro de Jacques Rancière que, à luz dos clássicos como da experiência francesa e mundial, continua um trabalho sempre renovado, jamais concluso, de afiar o gume da democracia', afirma o filósofo Renato Janine Ribeiro no texto de orelha do livro.
Com uma narrativa que prima pela erudição e absoluta ausência de afetação, Rancière faz uma análise oportuna sobre as contradições dos Estados democráticos e lança uma crítica ao sistema representativo vigente a partir de uma afirmação polêmica: 'Não vivemos em democracias. Vivemos em Estados de direito oligárquicos, em um admirável sistema que dá à minoria mais forte o poder de governar sem distúrbios'. Nesse contexto, o ódio à democracia se apresenta como o ódio ao povo e seus costumes - à sociedade que busca a igualdade, o respeito às diferenças e o direito das minorias -, e não às instituições que dizem encarnar o poder do povo. 




domingo, setembro 13, 2020

A Queda Para o Alto de Anderson Herzer


“Vi a lenta corrupção,
Vi o olhar do corruptor,
Vi uma vida na destruição
Eu vi o assassinato do amor”
(Trecho do poema “A Gota de Sangue”, Anderson Herzer, A Queda Para o Alto, 1982)
Para Jaques Ranciére, um dos mais importantes pensadores contemporâneos, a política da literatura não diz respeito à política dos escritores, nem aos seus engajamentos nas lutas políticas ou sociais do seu tempo. A literatura faz política enquanto literatura, enquanto estética da palavra, estabelecendo novos laços de comunicação, germinando pontes estéticas, fazendo florescer novas sensibilidades. A literatura, como toda arte, faz política acendendo (e não esclarecendo) novos olhares, excitando as inquietudes. 
A política, ao seu passo, funciona como uma forma de colocar nossas sensibilidades em prática. De torná-las linguagem. É dentro da política que concretizamos esse desejo sensível, e assim, diz Ranciére, esse desejo se torna uma estética, uma superfície, uma bandeira. De forma similar à religião, essas bandeiras estruturam a consciência e o comportamento humano, produzem instituições, que logo serão destruídas, para erigir e legitimar novas. 
O livro “A Queda Para o Alto” será o resultado desse encontro entre literatura e política: Uma literatura que faz política e uma política que se parece, como poucas, com a literatura, com a arte mesma. O encontro entre Anderson Herzer e Eduardo Suplicy será fundamental para concretizar a primeira publicação de um livro escrito por um homem transexual aqui no Brasil.


A República das Milícias


Fabrício Queiroz, Adriano da Nóbrega, Ronnie Lessa. Os três foram protagonistas de uma forma violenta de gestão de território que tomou corpo nos últimos vinte anos e ganha neste livro um retrato por inteiro: as milícias. Dos esquadrões da morte formados nos anos 1960 ao domínio do tráfico nos anos 1980 e 1990, dos porões da ditadura militar às máfias de caça-níquel, da ascensão do modelo de negócios miliciano ao assassinato de Marielle Franco, este livro joga luz sobre uma face sombria da experiência nacional que passou ao centro do palco com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência em 2018.